25 outubro 2009

15 outubro 2009

Este espaço está em abandono. Isso é um fato. (Ponto final com ênfase). E fatos, como dizem por aí, não se discute, embora, como quase sempre, pessoalmente eu não concorde com esse tipo de argumento. Enfim, como algumas pessoas têm me cobrado uma atualização – vide Carol nos comentários do post abaixo e Vanildo do Vidrassa em incessante lembrança durante os, agora raros, momentos de lazer–, decidi oferecer-lhes uma satisfação: ando em crise. Aliás, essa é uma condição corriqueira e perene, claro; contudo, nos últimos tempos não tenho conseguido nem ao menos escrever as mais toscas frases. Exaustão intelectual. Talvez seja esse o motivo. Tenho passado tempo demais debruçado sobre os textos teóricos (que gosto muito, mas cansam) e sem a menor condição de articular (sinapse, ligações cognitivas ou qualquer coisa do tipo estão em franca decadência) qualquer experiência com o objetivo de materializá-la. Bom, esse post explicativo não tem nenhum outro caráter além de explicar. Portanto, não tecerei conjecturas, delírios... Tudo isso ficará para uma próxima ocasião que espero ser em breve. Ou não.


PS: Mercedes Sosa morreu recentemente. Oh existência vil!




21 julho 2009

Dúvida


Enfim “Dúvida” filme que há algum tempo – desde que li sobre ele e vi parcas cenas em programas sobre cinema – ansiava por assistir... Pois na noite de hoje na companhia do Flávio e imersos em expeça bruma de fumaça de cigarros (com filtro branco) tive o prazer de me deleitar com as atuações de Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman e Viola Davis. Grandes atuações, sem dúvida esse é o “ponto alto” do filme, embora o roteiro e a fotografia sejam primorosos.

No entanto quero voltar às atuações. Meryl Streep e Philip Hoffman não têm que provar mais nada acerca da capacidade interpretativa uma vez que já o fizeram, respectivamente, em A Escolha de Sofia e Capote. Dessa forma a surpresa para mim ficou por conta de Viola Davis. Sensacional.


Como em apenas uma cena, talvez em menos de 10 minutos, a formidável (adjetivos são necessários, perdão) Davis conseguiu expressar sentimentos tão adversos e profundos quantos os exigidos para aquele instante?! Não sei, mas foi incrível assistir a seca e pérfida (?) freira, personagem de Meryl acuada pelo arrombo de medo, raiva e incredulidade de uma mãe pobre (e negra diga-se en passant por ser esse fator relevante como é de se esperar de um filme estadunidense). Ótima cena, mas a seqüência não deixa por menos. Mais uma vez a freira é confrontada, e dessa vez pelo padre, um superior na hierarquia religiosa, interpretado por Philip. Contudo diferente da situação anterior na qual por espanto ela não reage, o embate aqui já era esperado. Isso poderia ter deixado a cena fria ou óbvia, mas por mérito dos atores mais do que do diretor ouso conjecturar, tudo transcorre intensamente. Há de se notar o altruísmo da Meryl Streep que serve de “escada” para o brilhantismo dos companheiros de cena, característica ou delicadeza que parece intrínseca aos grandes interpretes. Mas tenho que fazer justiça e afirmar que o final é só dela: é a reafirmação da superioridade das dúvidas frente às certezas incontestes.
Sinto (e essa é a expressão mais pertinente em contraposição ao pensar) que a Dúvida não pode ser visto uma única vez. Tentarei antes do término das férias assisti-lo e me deleitar com as minhas dúvidas.

18 julho 2009

07 julho 2009

Louco

Já fui gordo. Já fui magro.
Já fui ego. Já fui id.

Já fui o que quis e o que não quis.

Já fui muito. Já fui pouco.

Hoje tenho a sensação
que não passei de um louco.

(Rodrigo Leão)


Em tempo: Estou assistindo o show/funeral do Michael Jackson. Emocionante. Nada como o soul, a melancolia dos negros estadunidenses é... Incrível! Isso sim é interpretar. Cantar qualquer um o faz, interpretar é para os priveligiados. Até o final da cerimônia é provável que eu chore.

Se os tubarões fossem homens (Bertolt Brecht)

Se os tubarões fossem homens, perguntou ao senhor K. a filha de sua senhoria, eles seriam mais amáveis com os peixinhos? Certamente, disse ele. Se os tubarões fossem homens, construiriam no mar grandes gaiolas para os peixes pequenos, com todo tipo de alimento, tanto animal quanto vegetal. Cuidariam para que as gaiolas tivessem sempre água fresca e tomariam toda espécie de medidas sanitárias.

Se, por exemplo, um peixinho ferisse a barbatana, lhe fariam imediatamente um curativo, para que não morresse antes do tempo. Para que os peixinhos não ficassem melancólicos, haveria grandes festas aquáticas de vez em quando, pois os peixinhos alegres tem melhor sabor do que os tristes. Naturalmente haveria também escolas nas gaiolas. Nessas escolas os peixinhos aprenderiam como nadar para a goela dos tubarões. Precisariam saber geografia, por exemplo, para localizar os grandes tubarões que vagueiam descansadamente pelo mar. O mais importante seria, naturalmente, a formação moral dos peixinhos. Eles seriam informados de que nada existe de mais belo e mais sublime do que um peixinho que se sacrifica contente, e que todos deveriam crer nos tubarões, sobretudo quando dissessem que cuidam de sua felicidade futura. Os peixinhos saberiam que este futuro só estaria assegurado se estudassem docilmente. Acima de tudo, os peixinhos deveriam evitar toda inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista, e avisar imediatamente os tubarões, se um deles mostrasse tais tendências. Se os tubarões fossem homens, naturalmente fariam guerras entre si, para conquistar gaiolas e peixinhos estrangeiros. Nessas guerras eles fariam lutar os seus peixinhos, e lhes ensinariam que há uma enorme diferença entre eles e os peixinhos dos outros tubarões. Os peixinhos, iriam proclamar, são notoriamente mudos, mas silenciam em línguas diferentes, e por isso não podem se entender. Cada peixinho que na guerra matasse alguns outros, inimigos, que silenciam em outra língua, seria condecorado com uma pequena medalha de argaço e receberia um título de herói. Se os tubarões fossem homens, naturalmente haveria também arte entre eles. Haveria belos quadros, representando os dentes dos tubarões em cores soberbas, e suas goelas como jardim que se brinca deliciosamente. Os teatros do fundo do mar mostrariam valorosos peixinhos nadando com entusiasmo para as gargantas dos tubarões, e a música seria tão bela, que seus acordes todos os peixinhos, como orquestra na frente, sonhando, embalados, nos pensamentos mais doces, se precipitariam nas gargantas dos tubarões. Também não faltaria uma religião, se os tubarões fossem homens. Ela ensinaria que a verdadeira vida dos peixinhos começa apenas na barriga dos tubarões. Além disso, se os tubarões fossem homens também acabaria a idéia de que os peixinhos são iguais entre si. Alguns deles se tornariam funcionários e seriam colocados acima dos outros. Aqueles ligeiramente maiores poderiam inclusive comer os menores. Isso seria agradável para os tubarões, pois eles teriam com maior freqüência, bocados maiores para comer. E os peixinhos maiores detentores de cargos, cuidariam da ordem entre os peixinhos, tornando-se professores, oficiais, construtores de gaiolas, etc. Em suma, haveria uma civilização no mar, se os tubarões fossem homens.

26 junho 2009

É... Michael Jackson morreu... Melhor assim. Um artista como ele não merecia a decrepitude pela qual passava nos últimos anos. Mais do que nunca agora temos um mito. Eu não 'existia' (acho) quando Elvis, Lennon, Marley e tantos outros paradigmas das artes morreram. No entanto, consciente, registro que Jackson morreu... Noite fria chuvosa...

No ano passado escrevi este texto para o Mistureba Híbrida, ressuscito-o:


Drácula ou Peter Pan? Não, é Jackson

É, chegamos ao derradeiro suspiro de mais um mês, o tal do cachorro louco, do desgosto e de todos esses clichês. Muita coisa aconteceu neste entremeio: Os Jogos Olímpicos na China, mais um conflito armado, encabeçado desta vez pela Rússia e pela Geórgia, a confirmação de Obama como representante Democrata nas eleições presidenciais dos EUA... No entanto, não escrevo para fazer uma retrospectiva de Agosto, e nem sei por que me demorei tanto nesse prólogo. Como tempo é informação, e esta é uma das forças motriz da atualidade, deixarei de delongas e entrarei no meu breve discurso. Acompanhe, pois!

Ao caro Vanildo Marley, desculpe-me, mas desta vez serei eu a escrever sobre mais um cinqüentenário: Michael Jackson! Sim, como foi amplamente noticiado por todas as mídias hoje, 29 de agosto comemora-se o aniversário de um dos maiores paradigmas da música pop mundial. Todos, ou melhor, muita gente, já o ouviu e senão, ao menos deve ter acompanhado os inúmeros mitos que acompanham a sua figura. Atualmente, aliás, ele figura com mais freqüência nas páginas de fofocas sobre celebridades do que nos cadernos de Cultura e Música. Ok, mas não estou aqui para falar sobre a biografia dele (para isto basta acessar deus, ou Google se preferir). E sim prestar uma singela homenagem através da lembrança dos ‘seus anos’.

Pode-se discutir inúmeros traços da personalidade de Michael, e até dizer que ele é um louco, pedófilo, uma aberração física e etc. Pessoalmente eu até concordo com determinadas atribuições feitas a ele. Mas nada disso, absolutamente nada mesmo, macula o seu histórico como artista, como criador (não apenas musicalmente, a influencia que ele exerce em outros campos como a dança contemporânea é relevante e deve ser ressaltada). O que importa, de fato, é que ele já está no roll da fama ao lado de outros grandes nomes fundamentais na criação da música pop americana, como James Brown e Prince.

Bom, pra finalizar Jackson é acima de tudo uma ‘persona’, interpreta uma personagem de si mesmo. A um veículo de comunicação norte americano ele disse que, nesta data querida, se sente “muito sábio, mas ao mesmo tempo muito jovem". Um misto de Conde Drácula e Peter Pan? Talvez, embora se tratando do “Rei do Pop” (não gosto de titulações com essa, mas...), eu não tenha competência alguma para afirmar absolutamente nada... Em suma, parabéns Michael! E que muitos outros sucessos e inovações artísticas venham à luz, para a nossa satisfação, é claro.


16 junho 2009

Não sou nenhum...

...Jornalista (será mesmo?), no entanto a causa é válida. Volto em ocasião mais opurtuna para escrever sobre o que penso da obrigatoriedade do diploma para o profissional de comunicação.




10 junho 2009

Idealismo, existencialismo... Jornalismo! E outros ismos mais

Com freqüência discutimos a pertinência de termos como neutralidade e imparcialidade quando aplicados ao jornalismo. Ideal. Acreditar na possibilidade de tal idealização é alçar o sujeito jornalista a uma categoria além do homem, divina. Nem aos deuses, nas mais variadas narrativas mitológicas, imparcialidade e neutralidade se aplicam. Zeus é testemunha disso. Jornalista é Deus. Pensado idealmente cabe ao repórter a função de Pai onipotente, presente e contundente. Justo. À imprensa devotamos a nossa fé no real como se não se tratasse ela, imprensa, de uma instituição. Falha. A sacra instituição e seus ortodoxos crentes se auto-proclamam os reprodutores da realidade, espelho veneziano do meio social. Opaco. Muito mais que reflexo do real a imprensa o constrói. O discurso constrói o mundo.

Ao jornalista deificado resta à árdua (?) tarefa de empenhar-se na manutenção da pretensa objetividade. Aos jornalistas, aliás, podemos agrupar em três grupos. Amorfos. Alguns alienados pela própria sagacidade profissional tornam-se defensores ferrenhos de tão escabrosa possibilidade do imparcial indubitável. Ufanistas da profissão, eles serão sempre os primeiros a, orgulhosos, rechaçarem as críticas e demonizar o outro. Nestes espécimes ingênuos persevera a ambição de apagar os traços da subjetividade em detrimento a utilização da terceira pessoa que “garantiria formalmente a impessoalidade do discurso, tendo-se como resultado um discurso esvaziado, que acaba por ocultar o processo social que possibilitou a notícia.” Jornalista que o é de fato desnuda-se de sua biografia sempre que estiver em ‘horário de trabalho’. O ser humano é um ser histórico-sócio-cultural. Jornalista é factual.

Também há aqueles não muito convictos do discurso institucionalizado e da pregação persistente (insistente) que até duvidam da validade universal dos preceitos miraculosos, contudo não ousam rebelar-se. Reformas, talvez. Mas não revoluções. Medrosos! Acusaria alguém menos compadecente. Antes das sentenças, no entanto, ouçamos os argumentos, ou procederemos como a própria imprensa e estamparemos nossas capas com conjecturas apriorísticas? Veja. Isto (não) é simples. Pois bem, aos jornalistas duvidosos do ideário jornalístico, porém ativos participes da construção desse mesmo ideário, podemos comparar ao católico por convenção. Sabe como é: identifica-se como católico freqüentador das missas dominicais, confessa assiduamente, até saboreia a comunhão sem mastigá-la, faz a penitencia, caridoso... Mas ainda sente certa dúvida sobre a honradez mariana e até mesmo da existência de Cristo. Duvida. Mesmo assim é mais fácil permanecer o mesmo, na zona de conforto, a questionar verdades milenares. Assim, procede essa estirpe de jornalista, para eles é mais fácil permanecer o mesmo a abandonar o lugar a mesa. Pai por que me abandonaste?! Não antes de o galo cantar.

E por fim, nos restam à minoria (?) de hereges-revolucionários que apreendem para si a função de desestabilizar, colocar em crise o status quo. A esses a palavra não se revelou, mas ocultou-se. Aos hereges, cientes do mistério da linguagem e sua inerente polifonia polissêmica restou a fomentação do incipiente Kaos. Fato? Coisa construída. O em si da notícia é compreendido como o para si do mercado. Inferno é um outro. Eu duplo. Mais-valia saber que a "neutralidade não existe (afinal, o jornal é uma empresa que vende uma mercadoria chamada notícia)”. Se não existe logo não há essência. Logo será de conhecimento público que a corte está nua. Enquanto isso, entre perseguições e reprimendas. Torquemada. Os hereges em posse de dispositivos literários amplificam os campos semânticos, faz falar as vozes (dissonantes) em um mesmo discurso. O novo jornalismo reconhece-se como uma variante da construção do real. Não há única. O social deixa de ser fotografado para ser pintado. Sujeitos em atividade. Ao jornalista o retorno à humanidade.

09 junho 2009

Este blog está por demais abandonado. "Isso é apenas uma observação", diria uma conhecida(?). Enfim, constato que no último mês não consegui racionalizar ou materializar absolutamente nada além dos meus trabalhos da faculdade. Justificativa pouco convincente mesmo para mim... Pretendo, contudo, retornar ao Quimeras em breve. Para começar alguns poemas - interessantes - do poeta (português) Gastão Cruz:


Junho é um mês funesto


Junho é um mês funesto
com o céu coberto
de armas

Da secura de junho
ninguém ainda morre
em cada corpo a boca
envolve os dedos mansos

§

Às vezes despedimo-nos tão cedo

Às vezes despedimo-nos tão cedo
que nem lágrimas há que nos suportem o
peso da voz à solidão exposta
ou
de lisboa no corpo o peso triste

Às vezes é tão cedo que nos vemos
omitidos
enquanto expõe
o peso insuportável do amor
a despedida

É tão cedo por vezes que lisboa
estende sobre os corpos o desgosto

Com os dedos no crânio despedimo-nos

§

Paráfrase

Deito um peixe no eixo do meu peito
aí o deixo devorar primeiro a vida
os coágulos depois o osso enfim
os arcos das costelas
o esterno
já ferido pelos dias

É ele o meu pulmão o músculo do meu
sangue perdido
barbatanas escamas guelras eixo
peixe
deitado no meu peito e vivo
entre ruínas

§


Os limões frios

De cada vez que vínhamos à casa
dos bisavós longinquamente mortos
que para ela tinham escolhido
um lugar na pureza
da terra absoluta
quando
principiava a primavera
e a avó saudava as andorinhas
como se no regresso
do ano anterior as mesmas fossem
e o sopro dos besouros me fazia
sentir que qualquer coisa novamente mudara
nos meus dias e o verão
subia e o calor da tarde intumescia
o sexo adolescente
e antes de regressar ao varejo da amêndoa
num silêncio de suor o jovem tio dormia
de cada vez nós víamos
da árvore desprenderem-se
os limões frios

26 abril 2009

24 abril 2009

Ainda o embate do STF

Do “Conversa Afiada”, blog do Paulo Henrique Amorim:

O grande brasileiro Joaquim Barbosa fez uma denúncia de gravidade sem par: o presidente do Supremo Tribunal Federal desmoraliza o Judiciário brasileiro.

Joaquim Barbosa disse o que está na cabeça de todo mundo, menos do PiG (*) e aqueles que representa (**).

Felizmente, a imagem na tevê fala por si: desde o jornal nacional de ontem, os noticiários de tevê do país inteiro mostraram com clareza insofismável: o Supremo Presidente está nu.

Sem máscara.

Desde que concedeu dois hábeas corpus em 48 horas ao banqueiro condenado Daniel Dantas, ele mostrou o que é: um instrumento dos brancos, ricos e de olhos azuis, e , por isso, fruto legítimo do Governo Fernando Henrique Cardoso.

Gilmar Dantas (segundo Ricardo Noblat) deu o Golpe de Estado de Direita, com a mão do PiG, e submeteu o presidente que tem medo aos seus desígnios (depois de tratar o Legislativo como um Centro de Detenção Provisória).

Quando o Supremo Presidente do Supremo tentou expulsar o Ministério Publico da função Constitucional de vigiar a Polícia, o Procurador Geral da República, Antonio Fernando de Souza respondeu com valentia.

Antonio Fernando tem a vantagem de ser Procurador de Primeira Classe, ponto que o Supremo Presidente não demonstrou méritos para atingir.

Barbosa, agora, foi diferente.

Foi ao vivo, no vídeo, na televisão.

O riso esgarçado na boca, a feição desorganizada e tensa de Gilmar, a contração de quem sente um frio na espinha, enquanto Barbosa falava dos “capangas”, o Brasil inteiro viu – e comemorou.

“Pegaram ele !”

A cara do nocaute.

De quem leva o drible da vaca.

Barbosa desnudou o golpista.

Gilmar Dantas desmoralizou a Justiça brasileira também porque o presidente Lula deixou.


Porque o presidente que tem medo lhe deu espaço político.

E agora vem com essa metáfora de futebol para enterrar o assunto.

Como se fosse possível esquecer o “gol de placa” do Ministro Barbosa.

O Supremo Presidente foi longe demais.

Seus capangas no PiG, também.

Só que ele se desmoralizou diante de todos.

(Lamentável a nota dos oito sabujos, os ministros que foram defender a honra, a liturgia do cargo do Presidente Supremo. E quando Gilmar Dantas - segundo Noblat - agride o bom-senso e a ética, ele honra o cargo ? Quando dá dois hábeas corpus em seguida a um notório passador de bola, apanhado no ato de passar bola, isso não desonra o cargo ?)

Gilmar Mendes desmoraliza a Justiça.

Mas, ontem se fez justiça !

Aliás indico que leiam também: http://www2.paulohenriqueamorim.com.br/?p=9534

*******

O caro Insano chamou-me à atenção para alguns comentários inscritos na notícia do Estadão, eis alguns:

ATENÇÃO SRs GENERAIS!!!

Qui, 23/04/09 08:01 , Anônimo

ATENÇÃO SRS GENERAIS, MARECHAIS E BRIGADEIROS!! o Páis esta entregue a propria sorte, a corrupção empregnou os tres poderes constituidos, nosso povo nao aguenta mais tanto descalabro esta classe politica atual é um bando marginais, no planalto seu chefe comanda uma quadrilha organizada que drena nossas reservas, no congresso loteado os parlamentares agem perversamente , no judiciario a justiça nao existe, sentenças sao compradas pelos poderosos. O POVO PRECISA DE VCS QUE JURARAM DEFENDER A PATRIA!, nao podemos mais aguentar tal mazelas, momento atual é delicado a grande maioria da população nao quer estes politicos PRECISAMOS DE SAUDE, EDUCAÇÃO E SEGURANÇA os motivos atuais sao muito mais importantes que 64, UM BASTA PRECISA ACONTECER IMEDIATAMENTE!! a populaçao correrá as ruas para aplaudir...AJUDE-NOS

Nem comento

Qui, 23/04/09 00:19 , Anônimo

Nem vou comentar, senão serei taxada de racismo e coisa e tal..... Mas esse JB precisa é de umas chicotadas em praça pública para aprender a não usar a toga para fazer bonito para seu auditório..... Como se diz no popular, quem nunca comeu melado... quando come se lambuza!


A grande maioria dos leitores, o que interpreto como sensatez, manifestou-se em apoio ao Ministro Joaquim Barbosa, mas ambos os exemplos acima ilustram a (in)capacidade de compreessão política ideológica que permeia a nossa realidade.


Brasil um país de todos!

23 abril 2009

Entre a rua e a mídia

Quebro o meu silêncio (e o faço com esse clichê discursivo) para manifestar o meu prazer ao ter assistido hoje (22 de Abril) em matéria do Jornal Nacional a discussão entre o Ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa e o "Supremo Presidente" do mesmo tribunal, Gilmar (Dantas) Mendes.

Como antes dito, assisti a tal embate no Jornal Nacional. O que isso significa? Explico: O JN é o principal jornal da rede Globo. Essa por sua vez integra segundo Paulo Henrique Amorim, o PIG (Partido da Imprensa Golpista) juntamente com a Folha de São Paulo e a Veja. Ou seja, esses três "grandes e influentes" veículos/ empresas de comunicação agem ridiculamente para desmoralizar o Governo Federal, da Polícia Federal e de todos aqueles que se colocam frente aos escusos interesses de uma classe dominante quase caquética, mas ainda vivente. Em suma, ter assistido essa notícia no JN afeta certamente a nossa compreensão, até porque foi explícito o sentido de desaprovação e reprimenda adotado pelo William Bonner ao comentar as infelizes declarações do agora irresponsável Joaquim Barbosa.


Assisti, portanto, a “quentíssima” (sensacionalistas gostam desse tipo de superlativo) discussão no youtube, que felizmente faz “recortes” menos vexatórios e contempla perspectivas diferentes das instrucionais. Não obstante fiz questão de recorrer aos blogs jornalísticos (o Conversa Afiada, por exemplo) e ao site da Folha Online. Nesse último a matéria traz inclusive o vídeo do ocorrido, mérito que, aliás, deve ser reconhecido por oferecer ao leitor o contato “direto” com a fonte. Mas chamo a atenção para o texto e faço aqui recortes para melhor ressaltar o sentido depreciativo implícito em relação ao ministro Barbosa. Falo aqui de palavras como “acusou”, “atacar” e do trecho “Em tom irônico, o Barbosa disse que o presidente do STF agiu com a sua tradicional "gentileza" e "lhaneza". Mendes reagiu ao afirmar que Barbosa é quem deu "lição de lhaneza (lisura)" ao tribunal. "Vamos encerrar a sessão", disse Mendes para encerrar o bate-boca.”


Mais uma pergunta retórica. A imagem de quem é construída como vitima nessa notícia? Gilmar Mendes, óbvio. Ele sai como o pobre vitimado, ofendido e humilhado quando na verdade só tentava se defender dos ataques ferozes e imponderados de Joaquim Barbosa... Ô coitado! É importante lembrar também que até o dia de ontem pelo menos o ministro Barbosa tinha a imagem “do responsável” pelo término da farra dos mensaleiros. A imprensa constrói e destrói heróis, isso se faz necessário. O antes “bom” negro Barbosa é o mais novo eleito.


Neste momento só quero ver se “As meninas do Jô” vão por essa discussão na mesa... E viva os defensores do “factual” e da "objetividade" como características divinas e inerentes ao jornalismo.


O "fato" no Estadão:

http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,ministros-do-stf-batem-boca-durante-sessao,358909,0.htm


O mesmo "fato" na FolhaOnline:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u554762.shtml





07 abril 2009

Morrer é necessário. Mas como dói vê-la deitada sob flores das quais não gostava... "Vida louca vida"... Adeus irmãzinha...

Love in the afternoon

É tão estranho
Os bons morrem jovens
Assim parece ser
Quando me lembro de você
Que acabou indo embora
Cedo demais.

Quando eu lhe dizia:
"- Me apaixono todo dia
E é sempre a pessoa errada."
Você sorriu e disse:
"- Eu gosto de você também."

Só que você foi embora cedo demais

Eu continuo aqui,
Com meu trabalho e meus amigos
E me lembro de você em dias assim
Um dia de chuva, um dia de sol
E o que sinto não sei dizer.

Vai com os anjos! vai em paz.
Era assim todo dia de tarde
A descoberta da amizade
Até a próxima vez.

É tão estranho
Os bons morrem antes
Me lembro de você
E de tanta gente que se foi
Cedo demais

E cedo demais
Eu aprendi a ter tudo o que sempre quis
Só não aprendi a perder
E eu, que tive um começo feliz
Do resto não sei dizer.

Lembro das tardes que passamos juntos
Não é sempre mais eu sei
Que você está bem agora
Só que este ano
O verão acabou
Cedo demais.

05 abril 2009

Ode à amizade

Como vocês sabem (afinal escrevo com freqüência sobre isso aqui no Quimeras) sou agraciado por ter bons amigos. Os melhores que alguém poderia ter, afirmo ciente da ‘rasgação de seda’. Não sei o que seria de mim senão os tivesse por perto neste momento de profunda dor e de agonia que devastam o meu ser e obrigam consequentemente, a restaurar a minha persona racional e fria.


Este micro-post, portanto, é dedicado aos velhos esquizóides carmelitanos (André, Flávio, Valter, Ciro e Antônio, principalmente). Se não tivéssemos nos reunido mais uma vez na noite de ontem, seria difícil, ou melhor, seria extremamente impossível começar esta semana. Grato pela força, meus caros!

01 abril 2009

29 março 2009

Não é mentira!

No próximo dia 1° de abril completa-se 45 anos do Golpe Militar. Tal “aniversário” me lembrou que há cerca de 4 meses escrevi uma matéria para a faculdade abordando o tema. Naquela ocasião tive a oportunidade de entrevistar pessoas que vivenciaram os anos ditatoriais, e principalmente, que foram presas sob a acusação de ser “simpáticas ao comunismo”. Tenho pelos “anos de chumbo” um verdadeiro fascínio. Aliás, há muitos anos me interesso pelo período militar brasileiro e latino-americano (com hífen ou sem?) por considerá-lo um momento histórico-cultural impar. Pude durante esses anos entre o ensino médio e a faculdade assistir, ler e ouvir inúmeros depoimentos e relatos de perseguidos políticos e artistas, todos me impressionaram deveras, mas era algo como que distante, surreal...


No entanto ao conversar pessoalmente com torturados o impacto é muito maior. Incomensuravelmente maior, afirmo mesmo ciente da hipérbole cometida. Dessa maneira, o asco pelos militares golpistas e seus apoiadores civis se torna “concreto”, o que antes era esboço fixa-se como desenho definitivo. Bom, eu poderia ter escrito um texto jornalístico para lembrá-los sobre o Golpe, ter falado sobre o escandaloso e equivocado editorial da Folha de São Paulo que ousou “nomenclaturar” tão tenebrosa época com o eufêmico “Ditabranda”. (O que denuncia, é claro, as intenções dos grandes veículos de comunicação de promover o esquecimento e fomentar a amnésia da população). Mas prefiro em casos como este oferecer a minha interpretação subjetiva, talvez seja mais humana que a pretensa imparcialidade dos fatos.


Para encerrar um poema de Brecht:


Primeiro levaram os comunistas

Mas não me importei com isso

Eu não sou comunista.

Em seguida levaram alguns operários

Mas não me importei com isso

Eu também não era operário.

Depois prenderam os sindicalistas

Mas não me importei com isso

Também não sou sindicalista.

Depois agarraram os sacerdotes

Mas como não sou religioso

Também não me importei.

Agora estão me levando,

Mas já é tarde.



PS: Volto no Dia da Mentira pra postar algum clássico da MPB que denunciava a "carinhosa" Ditadura.

28 março 2009

Em três tempos

Estou sem condições psicológicas(?) para escrever algo decente. Decente. O que seria algo decente? Acho que deveria me preocupar mais com "a fome na África, e não com coisinhas" como bem disse um grande amigo enquanto fazíamos testes de psicologia cognitiva em um bar nessa madrugada. Mas por que só me preocupar com a fome naquele continente se aqui tão perto há situações semelhantes? Não sei... Aliás, no momento só existe uma preocupação, nenhuma esperança e três tempos:


Passado:

Como Poe, poeta louco americano,
Eu pergunto ao passarinho: "Blackbird, o que se faz?"
Raven never raven never raven
Blackbird me responde
Tudo já ficou atrás
Raven never raven never raven
Assum-preto me responde
O passado nunca mais

(Velha Roupa Colorida, Belchior)

Presente:

Um dia, não haverá mais estrelas
sem olhos no meio da noite turva

Das borras de café surgirão sombras
capazes de esculpir a ausência dos corpos

Flores brotarão das toalhas das mesas,
das tristes mesas das casas sem mãe

E a poesia escreverá seus poetas,
a mostrar-lhes que a morte é comida caseira,
feita de agoras

(Da Morte, Beatriz Sayad)

Futuro:

Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...

(Metade, Ferreira Gullar)

26 março 2009

24 março 2009

"Assassinos da filosofia"

Reproduzo abaixo a opinião de Deleuze sobre Wittgenstein concedida a jornalista Claire Parnet em decorrência da gravação do "Abecedário de Gilles Deleuze". Deleuze é um dos grandes nomes do pensamento complexo francês da segunda metade do séc. XX, aliás não se pode pensar a psicanálise, ou mesmo a internet, comtemporânea sem cometer a gafe de não recorrer aos intricados conceitos criados por ele e Guattari, por exemplo. Reitero: aqui está, mais especificamente, o verbete W do Abecedário. Entretanto, recomendo aos interessados a leitura dos demais, eles revelam o quão aguçado pode ser o pensamento mesmo em questões aparentemente pouco relevantes.

Ah, acho também que as palavras do "rizomático" filósofo (radicais, duras, inapropriadas talvez) podem ser aplicadas a uma série de outros pensadores, ou melhor ao séquito de ignorantes que apreendem qualquer teoria filosófica como dogma. Começo a gostar dos peirceanos...


Claire Parnet: Vamos ao W.

Gilles Deleuze: Não tem nada em W.

Claire Parnet: Tem sim: Wittgenstein. Sei que não é nada para você...

Giles Deleuze: Não quero falar disso. Para mim, é uma catástrofe filosófica. É uma regressão em massa de toda a filosofia. O caso Wittgenstein é muito triste. Eles criaram um sistema de terror, no qual, sob o pretexto de fazer alguma coisa nova, instauraram a pobreza em toda a sua grandeza. Não há palavras para descrever este perigo. E é um perigo que volta. É grave, pois os wittgensteinianos são maus, eles quebram tudo! Se eles vencerem, haverá um assassinato da filosofia. São assassinos da filosofia.

Claire Parnet: É grave, então?

Gilles Deleuze: Sim, é preciso ter muito cuidado!

18 fevereiro 2009

Homo Erectus

Esta é a animação do conto de Marcelino Freire, feita por Rodrigo Burdman e com narração do Paulo César Pereio. Marcelino aliás, é um destes escritores instigantes, incômodos, que nos faz muitas vezes sentir uma certa "náusea". Portanto, alguém em quem se prestar atenção, sem dúvida.

"Sei lá não sei"

20 janeiro 2009

Amizades et cetera

O caro Insano (Sanatorium) fez o seguinte comentário no texto anterior, sobre Foucault: “Incrível esse comentário do Foucault sobre o silêncio. Eu prefiro, na maioria das vezes, aproveitar os momentos com pessoas queridas para mim apenas através do silêncio e contemplação. Não vejo e não tenho nenhuma necessidade de falar o tempo todo. O conjunto de ações, atitudes e expressões de uma pessoa é muito melhor e mais verdadeiro do que as palavras. Interessante notar também que essas relações de amizade em que o silêncio é presente são muito propícias à contemplação de modo geral. Às vezes, nesses momentos, tenho a impressão que as mentes dos envolvidos trabalham em conjunto e harmonia, como se comunicassem, pensando, se não sobre a mesma coisa, pelo menos se complementando.”

Acho esse comentário muito pertinente e vem, inclusive, de encontro com algumas questões sobre as minhas amizades que têm sido freqüentes nos meus devaneios cotidianos. Nos últimos tempos tenho percebido que o meu circulo imediato de amizades se reduz a pouquíssimas pessoas, até aí tudo bem uma vez que isso sempre foi uma constante. Mas o ponto em que acho interessante é de como as minhas amizades do referido círculo são recentes. Destes grandes amigos, por quem tenho verdadeira admiração, respeito, enfim amizade; nenhum eu conheço a mais de 5 anos!? Não nos tornamos amigos só pelo convívio, pela vizinhança ou coisa que o valha. Tornamo-nos amigos pela empatia, por interesses semelhantes, por idéias e problemas que se comunicam, embora sejamos muito diferentes uns dos outros e com histórias e experiências de vida distintas.
Ficaram, dessa forma pelo caminho amigos de longa data, companheiros de anos de escola. Pessoas queridas e importantes na minha vida, no entanto não faz mais sentido mantermos uma amizade direta uma vez que não “compartilhamos o mesmo mundo”. Para muitos daqueles amigos (hoje menores) eu me tornei uma pessoa estranha, distante, e isso de fato aconteceu... Penso que houve entre mim e estes últimos uma espécie de distanciamento psíquico, instaurou-se entre nós divergências enormes, rupturas e fissuras que até o maior sentimento de tolerância não seria capaz de atenuar. (Não sou uma pessoa de fácil trato, mas ouvir sertanejo e funk só para ‘pegar’ mais garotinhas é algo que não me entra na cabeça...) Mesmo assim os quero bem e sei que eles a mim.

Bom, escrevi isso em um arrombo de sentimentalismo exacerbado. Então aos meus grandes amigos agradeço por me proporcionarem a oportunidade de uma interlocução sincera e inteligente!

Michel Foucault. Esse é o nome do pensador que me tem “tirado o chão” como bem definiu o meu orientador de TCC ao conversarmos sobre a laboriosa teia de conceitos traçada por Foucault em diversas áreas do conhecimento. Aliás, essa maleabilidade teórica que o permitiu escrever sobre temas diversos como a psiquiatria e o Direito entre outras, se tornou o mote para que muitos o apedrejassem. Pós-moderno, afirmam peremptoriamente. No entanto nem o próprio Foucault achava pertinente ou valido um conceito com a “pós-modernidade”. Um Historiador do Pensamento como ele mesmo se definia, para aqueles que precisam de definições e ‘tags’, Foucault foi isso.


“Certos silêncios podem implicar em uma hostilidade virulenta; outros, por outro lado, são indicativos de uma amizade profunda, de uma admiração emocionada, de um amor. Eu lembro muito bem que quando eu encontrei o cineasta Daniel Schmid, vindo me visitar, não sei mais com que propósito, ele e eu descobrimos, ao fim de alguns minutos, que nós não tínhamos verdadeiramente nada a nos dizer. Desta forma, ficamos juntos desde as três horas da tarde até meia noite. Bebemos, fumamos haxixe, jantamos. Eu não creio que tenhamos falado mais do que vinte minutos durante essas dez horas. Este foi o ponto de partida de uma amizade bastante longa. Era, para mim, a primeira vez que uma amizade nascia de uma relação estritamente silenciosa. É possível que um outro elemento desta apreciação do silêncio tenha a ver com a obrigação de falar. Eu passei minha infância em um meio pequeno-burguês da França provincial, e a obrigação de falar, de conversar com os visitantes era, para mim, ao mesmo tempo algo muito estranho e muito entediante. Eu me lembro de perguntar por que as pessoas sentiam a obrigação de falar. O silêncio pode ser uma forma de relação muito mais interessante.”


Trecho de Michel Foucault. An Interview with Stephen Riggins", ("Une interview de Michel Foucault par Stephen Riggins) realizada em inglês em Toronto, 22 de jun de 1982. Traduzido a partir de FOUCAULT, Michel. Dits et Écrits. Paris: Gallimard, 1994, Vol. IV, pp. 525-538 por Wanderson Flor do Nascimento.

18 janeiro 2009

Let it Be

Uma puta versão de Let it Be em uma das cenas mais emocionantes do filme Across the Universe. Quem não assistiu a esse filme/musical vale à pena fazê-lo, embora tenha cenas demasiadamente chatas e em alguns casos desnecessárias (em minha opinião, é claro) é um bom retrato de um período muito psicodélico da história contemporânea. Além do mais só por ter Beatles como trilha é sem explicação.


16 janeiro 2009

Nostálgico

Me lembro que no ano passado neste mesmo período do ano, dois grandes amigos e eu vivíamos em uma constante ebulição criativa, um orgasmo permanente de idéias (esse acento não é adequado segundo a reforma ortográfica, mas...). Hoje me lembro com saudades (sentimento costumeiro e de certa forma imanente a mim) daqueles dias, ou melhor das noites de infindáveis devaneios alcoólicos, dos debates intensos a respeito de literatura e cinema, de Dostô, Sade e Tarkovsky, dos videozinhos do Gerald Tomas... Foi um tempo de Homens Elefantes aquele... Nostalgia. Mas como dizem por aí, a vida continua, e após uma temporada infecunda (de pouca ou quase nenhuma produção textual) um de nós, velhos esquizóides carmelitanos, voltou a produzir.

O conto que postarei logo abaixo tem um grande significado para mim. Ele celebrará, de certa forma, o (re) encontro dos solitários Lobos da Estepe na noite de hoje.



Terapia Ocupacional para um Suicida


O mundo é uma trepada. Vivemos em um organismo vivo que pode a qualquer momento nos expelir com força pra cair no chão e depois secar. Todo tipo de lixo já foi dito sobre o que é certo e errado, sobre o que devemos fazer pra nos sentirmos felizes. O pior é que tudo foi vomitado com propriedade pelos chamados entendidos. Mas sejamos francos e admitamos que não se pode afirmar nada sobre porra nenhuma. O que vai acontecer no futuro? Foda-se!

Sou um marginal muito sofisticado, de cabeça febril, do tipo que acorda todos os dias e se questiona se vale a pena levantar pra viver. Um cara esquisito, escravo de suas neuroses infindáveis. Tenho em mim uma força monumental, destruidora, e essa força vai um dia me levar a cometer atos um tanto pecaminosos. De marginal a delinqüente, um bandido perseguido, assassino e déspota. Vou destruir tudo e aqueles que sobrarem vão ser abatidos ali mesmo. Quero me dedicar ao exercício do poder, ser herói pra mim mesmo e ninguém mais.

É então que me corto sem pudor, uso navalha bem afiada pra não deixar dúvida. Daí tomo centenas de pílulas pra não escapar. Deito sangrando, boca aberta respirando ofegante. Não digo nada, só espero. Faço o que quiser com o que é meu. Esse corpo já era. Quero ver quem vai me impedir. Mas aí eu apago e sou salvo pelos desgraçados que me levam pra droga de um hospital, onde fico sedado vários dias, delirante. Sonho as coisas mais escabrosas, parece que estou já no inferno.

A cama sangra. Meu corpo ainda quente sente a presença de toda a ralé que tenta acudir, consolar, sei lá o quê. Sou observado e fazem comentários piedosos a meu respeito. Ali sou o homem elefante, a besta de circo que todos até pagariam pra ver. Enfermeiros, médicos, visitantes, curiosos, mulheres voluptuosas, pederastas, crianças enfermas, cadáveres, todos passam. Parece que se deliciam.

Ali sou um cristo, a própria imagem da morte. Meus lábios pronunciam coisas sem sentido algum. Quero me libertar de todo o martírio e me erguer. Ser homem de verdade, casa e filhos, mulher e amante. Ainda estou atado, sangrando muito. Meus olhos por vezes se abrem pra ver o espetáculo. Vou ter um infarto. Quanta merda literal ou não perto de mim!

Toco o meu sexo, sentindo certo tesão. Olho lascivo pras enfermeiras ali, que de certa forma retribuem o olhar, voluptuosas. Tenho uma vontade imensa de foder agora, é como se a volta dos mortos tivesse recriado o meu pênis. Um membro permanentemente ereto, acusador em sua imponência, uma metralhadora de sêmen ambulante, pronta para o ataque. Vou estuprar alguém assim que...

Pros infernos com todos! Deixem-me em paz, seus filhos da puta! Por que não posso simplesmente existir sem ser notado? Não estou em nenhuma vitrine para ser avaliado dessa forma. Vocês não podem me comprar, tenho os meus princípios, a minha dignidade, embora um tanto prostituída. Já não tenho alma e sou filho do nada.

Soco a enfermeira na boca e a jogo no chão. Chuto sua cabecinha de boqueteira até sangrar e eu me excitar demais. A outra só olha horrorizada e não diz nada, decerto com medo de apanhar também. Largo a sua puta amiga no chão e apalpo os seus seios fartos com vigor, até doer. Ela grita e eu cuspo na cara dela. Dou uma risada e saio.

Tenho sangue nas mãos e barba na cara. Sou um homem. Sou aquele pelo qual todos sempre esperaram. Sei de coisas que todos ignoram e assim preferem continuar. Trago a peste, a melancolia, o choque. Destruo o que quiser a qualquer momento e saio ileso. A desgraça permeia o meu ser.

Saio do hospital e a vejo. Ela me olha pasma. Estranha o meu aspecto doentio. O que quer de mim essa mulher? Já não basta ter roubado a minha vida, desestruturado a minha psicose habitual? Lembro-me quando ela surgiu, e tão rápido se foi. Seus lábios parecem pronunciar algo de terrível, que de fato não consigo compreender. Estou me lixando pro que ela diz, aposto que é banalidade. Mas ela chora. Eu cada vez mais indiferente e cruel. Adeus.

Preciso de uma ocupação. Uma terapia viria a calhar. E é assim que caminho, sempre em frente. Todo o passado agora é lixo.

Que belas as meninas que passam. Estudantes. Carregam seus objetos escolares e tagarelam. Surjo como um bicho e elas se espantam. Corro atrás tipo um leão faminto. Elas acabam se dispersando e eu ainda louco. Uma fica pra trás. Já era.

Sento-me num banco de jardim, satisfeito. Minha auto-estima está bem melhor. Sou capaz de dominar uma mulher facilmente. Esses seres não têm qualquer poder sobre mim, não mais. Não podem me consumir, sou só eu sem ninguém. Onde estou, sou inatingível. Tenho uma aura indestrutível que só sabe massacrar. É um escudo e um estado.

Na verdade a minha vida sempre foi miséria. Nunca senti que estava vivo, e agora ainda menos. Sou ridículo e desprezível. Minha alma grita solitária e morre aos poucos. Desamparado em uma terra desconhecida, isso sou eu. Meu coração funciona como que por puro instinto. Estou em um caixão fechado, sempre pronto para ser cremado. Aguardo as chamas que me consumirão e derreterão o meu ser decadente. Fecho os olhos e tento imaginar algo menos trágico, quando me sentir digno de viver. Quando puder viver, ser e sentir.

Caminho febril, tropeço às vezes. Não caio por teimosia. Pertenço ao subsolo, minha morada acolhedora. Não há lugar pra mim onde possa respirar. Quero um exorcismo, urrar alucinado para os céus e voar. Vou começar a correr sem jamais me cansar. Destruirei todas as fronteiras, serei perpétuo.

Quanta morte, agonia e dor. O desespero incurável. Infecto a todos com a minha doença, uso seringa e faca. Arranco as entranhas daqueles que não querem me dar passagem e também dos que me abandonam continuamente. Miserável em meu âmago, nulo em minha angústia.

Vou matando e errando. Estripo os trabalhadores e decapito os animais vadios. Corto pescoços de senhoras de meia-idade. Derrubo latas de lixo e quebro vidros. Ateio fogo aos lares. Derreto cruzes só com o olhar. As crianças correm chorando e vão buscar consolo nos braços de suas mães. Os pais olham indiferentes, mas depois se irritam com essa demonstração de fraqueza de seus varões. Os padres fazem o sinal-da-cruz mecanicamente e em seguida adentram as suas moradas suntuosas. Gestantes parecem ansiar pelo fim, não querem propagar a desdita.

Sou eu o agente do apocalipse. Todos os infelizes podem vir a mim que serão atendidos. Tenho a felicidade etérea para distribuir em infinitas proporções. Liberto a todos e a mim. O mundo é ódio, é busca por territórios. Tornarei a Terra um local menos inóspito.

Entro em uma igreja e me sento. Vejo Jesus lá em cima. Ele também fui eu que matei. Tenho ânsias de chorar, mas me contenho. Sei que não tem volta para esse crime. Minha consciência é maior do que eu mesmo. É minha esposa e filha, meu sangue e espírito. Entrego meu corpo ao abismo e deixo os vermes se fartarem. Não tenho nada. Sou o nada. Subo no altar e abro os braços. Ensangüentado e cheio de piedade. Não consigo conter a tristeza por saber que o meu pai é feito de gesso. Toda a esperança está dizimada.

Não suporto mais viver em um mundo de animalidade pura, onde o dinheiro é deus. Sem afeto, sem amor. O que conta são as coisas superficiais, e a essência do indivíduo é anulada. Quero incendiar o mundo com o meu ardor, essa paixão incontida que torna tudo possível. Tenho ânsias de vivenciar o âmago de toda a vida, sem restrições, estando permanentemente em êxtase pelo simples fato de ser. Quero viver, mesmo estando morto. Desejo readquirir essa vitalidade, essa energia intensa da qual fui originalmente dotado. Talvez seja tarde demais, pois a minha corrupção é hedionda, minha sobrevivência o meu martírio. Que a terapia continue.

Passo por uma escola e rio. Vejo todos escandalizados comigo. Aproximo-me e cuspo. Urino em livros, corto o meu rosto com estiletes. Estou já só. Atiro carteiras para fora da janela e acerto muitos na cabeça. Desnudo-me e deito. Evacuo em cima da mesa do professor. No quadro-negro, a mensagem que deixo é bem clara: "Todos contra mim".

Na rua continuo a minha saga de destruição. Quebro vidros de carros e os incendeio. Agrido os transeuntes violentamente e lambo o sangue em minhas mãos. Pareço uma fera lasciva e insaciável. Sou a personificação do caos, um demônio de feições humanas que ninguém pode conter. Piromaníaco, repulsivo e louco. Meu espetáculo é o mais apoteótico de todos os tempos. Agora sim canalizo a minha energia para as coisas certas, para o que sempre quis. Minha respiração tem no momento um sentido, mantém-me vivo para o que de fato tenho de fazer. É a minha natureza em sua plenitude. Esse sou eu.

Caminho contente para o meu destino. Retornarei para o lugar de onde jamais deveria ter saído. Entro no cemitério para abraçar os meus entes queridos. Violo a sepultura de minha família com avidez. Ali me deito ao lado de meus antepassados e sinto-me finalmente em paz. Sei que não serei mais incomodado e que não terei mais pensamentos perturbadores. Não matarei os meus sentimentos nobres nem os desperdiçarei com pessoas indignas. Não sofrerei mais.

Fecho os olhos.

(Flávio Monteiro)

15 janeiro 2009

Les Invasions Barbares

"A história da humanidade é uma história de horror"


Balanço parcial das férias: Manhãs de sono (quase) profundo; tardes demasiadamente longas; noites de pura inquietação; madrugadas hilárias promovidas pelo Fala Que Eu Te Escuto. Enfim, livros interrompidos, pilha de filmes não assistidos; viagens abandonadas; galhofa semanal com os amigos.

Imaginemos, portanto

Acabo de ler em mais de um portal de noticias que os ataques israelenses em Gaza já totalizam mais de mil mortes, a grande maioria desses são de civis. Treze foram os mortos contabilizados pelos israelitas, dez eram militares. É uma situação chocante, não há como permanecer apático ou não revoltar-se com tamanha desrespeito a Humanidade. Fico com a sempre (ou quase sempre, se preferir) consciente e sensata argumentação de Saramago:


Imaginemos
Imaginemos que, nos anos trinta, quando os nazis iniciaram a sua caça aos judeus, o povo alemão teria descido à rua, em grandiosas manifestações que iriam ficar na História, para exigir ao seu governo o fim da perseguição e a promulgação de leis que protegessem todas e quaisquer minorias, fossem elas de judeus, de comunistas, de ciganos ou de homossexuais. Imaginemos que, apoiando essa digna e corajosa acção dos homens e mulheres do país de Goethe, os povos da Europa desfilariam pelas avenidas e praças das suas cidades e uniriam as suas vozes ao coro dos protestos levantados em Berlim, em Munique, em Colónia, em Frankfurt. Já sabemos que nada disto sucedeu nem poderia ter sucedido. Por indiferença, apatia, por cumplicidade táctica ou manifesta com Hitler, o povo alemão, salvo qualquer raríssima excepção, não deu um passo, não fez um gesto, não disse uma palavra para salvar aqueles que iriam ser carne de campo de concentração e de forno crematório, e, no resto da Europa, por uma razão ou outra (por exemplo, os fascismos nascentes), uma assumida conivência com os carrascos nazis disciplinaria ou puniria qualquer veleidade de protesto.
Hoje é diferente. Temos liberdade de expressão, liberdade de manifestação e não sei quantas liberdades mais. Podemos sair à rua aos milhares ou aos milhões que a nossa segurança sempre estará assegurada pelas constituições que nos regem, podemos exigir o fim dos sofrimentos de Gaza ou a restituição ao povo palestino da sua soberania e a reparação dos danos morais e materiais sofridos ao longo de sessenta anos, sem piores consequências que os insultos e as provocações da propaganda israelita. As imaginadas manifestações dos anos trinta seriam reprimidas com violência, em algum caso com ferocidade, as nossas, quando muito, contarão com a indulgência dos meios de comunicação social e logo entrarão em acção os mecanismos do olvido. O nazismo alemão não daria um passo atrás e tudo seria igual ao que veio a ser e a História registou. Por sua vez, o exército israelita, esse que o filósofo Yeshayahu Leibowitz, em 1982, acusou de ter uma mentalidade “judeonazi”, segue fielmente, cumprindo ordens dos seus sucessivos governos e comandos, as doutrinas genocidas daqueles que torturaram, gasearam e queimaram os seus antepassados. Pode mesmo dizer-se que em alguns aspectos os discípulos ultrapassaram os mestres. Quanto a nós, continuaremos a manifestar-nos.

09 janeiro 2009

O meu Guri

Sempre que os telejornais noticiam a morte de algum jovem ou adolescente favelado (não gosto dessa expressão, mas...) em decorrência das mal planejadas ações policiais de caça a traficantes, eu me lembro da música O Meu Guri composta pelo Chico Buarque. Chega a ser realmente impressionante como não consigo desassociar a cena daquelas mães desesperadas, clamando por justiça (?) dessa música. A trilha sonora perfeita para o drama ideal, avalio.


Quando, seu moço
Nasceu meu rebento
Não era o momento
Dele rebentar
Já foi nascendo
Com cara de fome
E eu não tinha nem nome
Prá lhe dar
Como fui levando
Não sei lhe explicar
Fui assim levando
Ele a me levar
E na sua meninice
Ele um dia me disse
Que chegava lá
Olha aí! Olha aí!




Olha aí! Olha aí!

Olha aí!

Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!


Chega suado
E veloz do batente

Traz sempre um presente
Prá me encabular

Tanta corrente de ouro
Seu moço!
Que haja pescoço
Prá enfiar
Me trouxe uma bolsa
Já com tudo dentro
Chave, caderneta

Terço e patuá
Um lenço e uma penca

De documentos
Prá finalmente
Eu me identificar

Olha aí!



Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!


Chega no morro
Com carregamento
Pulseira, cimento
Relógio, pneu, gravador

Rezo até ele chegar
Cá no alto
Essa onda de assaltos
Tá um horror
Eu consolo ele
Ele me consola
Boto ele no colo
Prá ele me ninar
De repente acordo

Olho pro lado

E o danado já foi trabalhar
Olha aí!


Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!

Chega estampado

Manchete, retrato
Com venda nos olhos
Legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente
Seu moço!
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato
Acho que tá rindo
Acho que tá lindo

De papo pro ar
Desde o começo eu não disse
Seu moço!
Ele disse que chegava lá
Olha aí! Olha aí!


Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí
Olha aí!
E o meu guri!...

07 janeiro 2009

Enquanto faço conjeturas sobre poesia o Oriente Médio vivencia mais um conflito... Portanto, aos radicais islâmicos e ao governo israelense dedico com "carinho" Pink Floyd: