Este blog está por demais abandonado. "Isso é apenas uma observação", diria uma conhecida(?). Enfim, constato que no último mês não consegui racionalizar ou materializar absolutamente nada além dos meus trabalhos da faculdade. Justificativa pouco convincente mesmo para mim... Pretendo, contudo, retornar ao Quimeras em breve. Para começar alguns poemas - interessantes - do poeta (português) Gastão Cruz:
Junho é um mês funesto
Junho é um mês funesto
com o céu coberto
de armas
Da secura de junho
ninguém ainda morre
em cada corpo a boca
envolve os dedos mansos
§
Às vezes despedimo-nos tão cedo
Às vezes despedimo-nos tão cedo
que nem lágrimas há que nos suportem o
peso da voz à solidão exposta
ou
de lisboa no corpo o peso triste
Às vezes é tão cedo que nos vemos
omitidos
enquanto expõe
o peso insuportável do amor
a despedida
É tão cedo por vezes que lisboa
estende sobre os corpos o desgosto
Com os dedos no crânio despedimo-nos
§
Paráfrase
Deito um peixe no eixo do meu peito
aí o deixo devorar primeiro a vida
os coágulos depois o osso enfim
os arcos das costelas
o esterno
já ferido pelos dias
É ele o meu pulmão o músculo do meu
sangue perdido
barbatanas escamas guelras eixo
peixe
deitado no meu peito e vivo
entre ruínas
§
Os limões frios
De cada vez que vínhamos à casa
dos bisavós longinquamente mortos
que para ela tinham escolhido
um lugar na pureza
da terra absoluta
quando
principiava a primavera
e a avó saudava as andorinhas
como se no regresso
do ano anterior as mesmas fossem
e o sopro dos besouros me fazia
sentir que qualquer coisa novamente mudara
nos meus dias e o verão
subia e o calor da tarde intumescia
o sexo adolescente
e antes de regressar ao varejo da amêndoa
num silêncio de suor o jovem tio dormia
de cada vez nós víamos
da árvore desprenderem-se
os limões frios
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