22 março 2012

A inexpugnável estranheza do ser

Que fique esclarecido, ainda não voltarei a escrever, ao menos não com a minha antiga "coragem" mas, talvez, seja chegado o momento de retornar – e retomar – estas quimeras... As condições, todavia, estão dadas. O que significa, evidentemente, uma única coisa: passei tanto tempo a acumular sentimentos, impressões, expressões, me empanturrando de livros, filmes e debates acaloradas que, enfim, pareço estar pronto para regurgitar, dar vazão a essa matéria inerte.

Evidente, também, o fato de não ter abandonado o receio em escrever, não por me considerar um “mau” escritor, mas por ter certeza da minha superficialidade crônica ou da mera incapacidade de transpor e desnaturalizar uma estrutural e constituinte percepção de mundo – meta existencial. No entanto, para além dessas questões prosaicas, é bom reafirmar que este sujeito aqui é “um outro”.

Parêntese: Tornar-se permanentemente outro, vivenciar um festivo devir na busca insensata por uma meninice alucinatória, resultaram em um objetivo cotidiano de movimento (espécie de travessia roseana) e, sobretudo, em um afã leviano de conhecer-me a mim mesmo. Engodo. Na minha obsessão teórica em apreender, racionalizar e, se possível, operacionalizar a existência consegui apenas aprofundar um mal estar latente. Isso porque só agora – embora não necessariamente – percebi que o devir é imanência, não há não-movimento e muito menos como evitar tornar-se outro. Ou seja, o dispositivo a ser acionado é muito simples e se chama vida. Tudo o mais é decorrência desta primeira ação. A própria vida se encarrega de deflagrar a vida, portanto. Fecha parêntese.

Pois bem, daqui para frente pretendo, aos poucos, voltar a escrever com certa regularidade, sabe-se lá qual... Ainda sou norteado por acontecimentos, então esse pode ser um elemento propulsor, tudo dependerá, contudo, de uma única coisa: estar angustiado. Sem essa “anima”, não há vida possível para mim, claro.


31 julho 2010

Não solta da minha mão

Mais de um ano. É esse o tempo que transcorreu desde a sua morte. Foda. Ainda dói, às vezes intensa e profundamente, em outras é fraquinha, apenas um lembrete do que perdi, acho. Mas pra que escrever essas coisas sentimentais, se você não poderá lê-las. Ah, amor. Escrevo para mim. Para não esquecer de você e, sobretudo, não esquecer de mim.

Esquecer. Tenho medo desse processo que teima em vitimar - eu gente humana, embora muitas vezes não pareça – a mim, e a todos os outros que ainda vivem. Os mortos, penso, não sofrem de tal moléstia.

Pois bem, não é que ontem me dei conta que você começa a se apagar em minha memória?! É. Seu riso – que tanto amo – já não me vem tão facilmente, requer algum tempinho de procura em meio a tanta zona sombria, e sua voz, com certeza, não ecoa com o mesmo vigor dentro desta minha caixa craniana... Fico realmente triste ao constatar isso. Aliás, mais triste ainda fico em pensar que esquecê-la significa esquecer parte do que vivi. (Uma boa parcela morreu e foi enterrada juntamente com o seu cadáver, como disse a muitos, naquela época).

Neste momento repasso muito do que vivenciamos juntos, os tantos momentos de amizade, as conversas em sala de aula, as horas no telefone e as confidencias murmuradas, a compreensão... Vivemos tanto! É revoltante saber que me esquecerei de tudo: das gargalhadas que vinham em ondas incontroláveis, verdadeiras convulsões de alegria, mas também do choro, igualmente, incontrolável, fértil... Daqui a alguns anos nada passará de uma, talvez nem isso, lembrança difusa? Quem sabe um nada?

Temo, amor, temo. Ao que tudo indica acabarei por matá-la, ajo, sem querer, claro, como aquele câncer... Engraçado, você que era de câncer!... Enfim, mas se, por ventura, eu realmente assassiná-la, não foi por maldade, por querer. Foi a vida. Viver tem dessas coisas: mata as pessoas que amamos com a mesma impiedade que nos mata, né? De qualquer forma, me faça um último favor, não solta da minha mão... Se lembra? Como naquela música... Não solta de minha mão.



02 julho 2010

Para regozijo do amigo Flávio (acessem o Hammer Philosophy, o link está logo ali ao lago), posto o meu (?!) pseudo-conto mais indecente:


O Hedonista


Gozei. Mas como das últimas vezes esse gozo não me trouxe prazer e sim vazio. Há alguns meses tenho me sentido assim após o gozo, o êxtase sexual. Essa espécie de vazio parece se adensar, sinto-o maior e mais potente cada vez que ejaculo. Não sei o que está acontecendo e os médicos também não sabem, será uma nova patologia, daquelas raríssimas que acometem uma pessoa em milhões? Pouco provável segundo os ‘doutores’ por mim consultados – e eu fiz esta mesma pergunta a vários, das mais distintas especialidades.


O pior de tudo é que este ‘sentir-me vazio’ tem interferido nas minhas atividades sexuais... Trepar, que é sem dúvida o meu maior prazer, se tornou e está se tornando cada vez mais em um ato de terror, de fobia. Estou em meu intimo humilhado comigo mesmo. E curioso: a minha humilhação não advém da minha incapacidade de dar prazer ao outro, por uma razão quase simplória: o outro continua sentindo prazer em transar comigo. A minha humilhação surge no momento em que não consigo sentir prazer; no instante no qual não consigo fornecer ao meu organismo e a minha alma o tão ansiado êxtase.


Apesar de jovem sinto-me decrépito, pois poucas coisas na vida de um homem são tão importantes quanto o sexo. Foi para copular-mos que nascemos. Segundo as tradições judaico-cristãs quando Deus nos criou Ele teria dito: “Crescei e multiplicai-vos”, ou seja, o Criador nos ordenou copular e não a produzir conhecimento, filosofias ou tecnologias. Ele (Deus) nos forneceu a coisa mais importante, o mais perfeito mecanismo animal: o órgão sexual!


(Lógico que se você for um racionalista dirá que o mais perfeito órgão é o cérebro. Realmente ele é uma bela máquina, mas não se compara a uma vagina ou um pênis... Você já percebeu o quanto o seu órgão sexual te oferece de júbilo? E em detrimento a esta satisfação ofertada o quanto o seu cérebro te traz de problemas, questionamentos e nada além de infelicidade. É por isso que digo: o futuro da humanidade reside na nossa capacidade de ejacular e não de pensar!).


Sim, eu sou um hedonista se é isso que está supondo... E não me sinto nada constrangido em assumir essa opção, como direi, de vida. Aliás, além de hedonista sou artista. E para mim uma coisa é imanente à outra, não creio em arte sem hedonismo e todo hedonismo produz arte. (Mais uma vez você racionalista argumentará: Mas a arte é produzida pela razão! Ao que eu, serenamente, responderei: Não, a arte é produzida pelos os nossos mais ancestrais instintos animalescos, portanto irracional).


Durante toda a minha vida – nossa que exagero o meu, até parece que tenho setenta anos quando na verdade possuo vinte e cinco! –, eu tenho vivido de maneira intensa os “prazeres” que a existência têm me concedido. Sou rico, bonito, famoso e um artista consagrado; e o que é mais importante, em minha opinião, tenho transado com as mulheres e os homens mais desejados deste país. Não há nenhum destes ‘símbolos sexuais’, femininos ou masculinos, que não tenha passado por minha cama...


(Há-há! Aposto que o choquei, caro leitor, ao revelar que TREPEI com homens e mulheres?! É que eu não perco tempo com essa história de nomenclaturas: hétero, homo, bi; para mim são todos a mesmíssima coisa, o que importa mesmo é o sexual.)


Porém, como estava relatando antes, nos últimos meses algo de muito estranho tem acontecido comigo... E este ‘algo estranho’ tem-me deixado, sobretudo angustiado. Se eu fosse um destes “românticos” diria que esse vazio que sinto se deve ao fato de não amar, de não compartilhar com ninguém os meus sentimentos ou lamúrias parecidas com estas. Mas como não sou e nunca fui romântico a única explicação é que não há explicação. Sendo assim algo inexplicável, me abstenho em humildemente, prosseguir com a minha rotina de prazeres... Não será uma impressionabilidade qualquer de vazio, ou coisa que o valha, que irá interromper o meu ciclo hedonista! Muito pelo contrário, foi a partir do momento em que comecei a me sentir assim, que intensifiquei ao máximo a minha interação com tudo que me dá, (adoro esse verbo!), ou melhor, me dava prazer. Essa é a minha esperança: vencer o vazio pela plenitude e exacerbação hedonística! Confesso que este método de tratamento não tem surtido efeito, ainda... Mas prosseguirei assim mesmo.


Bom, uma vez que revelei tudo o que sou a vocês; aproveito a ocasião para confidenciar-lhes que receio que esse sentimento de vacuidade, seja na verdade uma profecia da morte. Estou a tal ponto convencido de minha morte prematura que... Ahn... Que me tornei mais religioso. Agora, mais do que nunca tenho tentado crer em um Deus e toda essa presepada metafísica. Não tenho me adaptado bem aos dogmas, mas estou perseverando. Aliás, antes que me esqueça: agora sou um mulçumano. Por que, você deve estar se perguntando. Oras muito fácil, quando estiver realmente convencido do meu fim, quero cometer um sacrifício – vou me explodir em uma grande biblioteca e matar comigo o maior numero de intelectuais possível! – para me tornar um mártir e consecutivamente um querido de Alá. Só assim Ele me concederá um Paraíso com setenta e duas virgens! Existe vida após a morte mais hedônica do que essa? Acho que não. Mas caso você saiba de alguma, por favor, me informe quem sabe ainda tenho tempo de mudar de crença, não é?


Agora, darei continuidade ao que fazia antes de me interromper para contar-lhes a minha história: está na hora de mais uma sessão de onanismo... Ah!? Quem sabe não nos encontramos por aí... Desde que me ofereça o Prazer, é óbvio...


19 junho 2010

Ainda não voltei...

Como bem define o o título ainda não retomei as postagens deste blogue, e tão cedo o farei, acho. De qualquer forma, na tentativa (vã talvez) de "ganhar ritmo" (sim, até eu fui contaminado, infectado pelos clichês esportivos... ah esta Copa)...

Em resumo, abaixo alguns trabalhos de minha amiga Iana Soares que vi recentemente e, acho, vale ser divulgados (piada, quem além de moi acessa este espaço?):




25 outubro 2009

15 outubro 2009

Este espaço está em abandono. Isso é um fato. (Ponto final com ênfase). E fatos, como dizem por aí, não se discute, embora, como quase sempre, pessoalmente eu não concorde com esse tipo de argumento. Enfim, como algumas pessoas têm me cobrado uma atualização – vide Carol nos comentários do post abaixo e Vanildo do Vidrassa em incessante lembrança durante os, agora raros, momentos de lazer–, decidi oferecer-lhes uma satisfação: ando em crise. Aliás, essa é uma condição corriqueira e perene, claro; contudo, nos últimos tempos não tenho conseguido nem ao menos escrever as mais toscas frases. Exaustão intelectual. Talvez seja esse o motivo. Tenho passado tempo demais debruçado sobre os textos teóricos (que gosto muito, mas cansam) e sem a menor condição de articular (sinapse, ligações cognitivas ou qualquer coisa do tipo estão em franca decadência) qualquer experiência com o objetivo de materializá-la. Bom, esse post explicativo não tem nenhum outro caráter além de explicar. Portanto, não tecerei conjecturas, delírios... Tudo isso ficará para uma próxima ocasião que espero ser em breve. Ou não.


PS: Mercedes Sosa morreu recentemente. Oh existência vil!




21 julho 2009

Dúvida


Enfim “Dúvida” filme que há algum tempo – desde que li sobre ele e vi parcas cenas em programas sobre cinema – ansiava por assistir... Pois na noite de hoje na companhia do Flávio e imersos em expeça bruma de fumaça de cigarros (com filtro branco) tive o prazer de me deleitar com as atuações de Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman e Viola Davis. Grandes atuações, sem dúvida esse é o “ponto alto” do filme, embora o roteiro e a fotografia sejam primorosos.

No entanto quero voltar às atuações. Meryl Streep e Philip Hoffman não têm que provar mais nada acerca da capacidade interpretativa uma vez que já o fizeram, respectivamente, em A Escolha de Sofia e Capote. Dessa forma a surpresa para mim ficou por conta de Viola Davis. Sensacional.


Como em apenas uma cena, talvez em menos de 10 minutos, a formidável (adjetivos são necessários, perdão) Davis conseguiu expressar sentimentos tão adversos e profundos quantos os exigidos para aquele instante?! Não sei, mas foi incrível assistir a seca e pérfida (?) freira, personagem de Meryl acuada pelo arrombo de medo, raiva e incredulidade de uma mãe pobre (e negra diga-se en passant por ser esse fator relevante como é de se esperar de um filme estadunidense). Ótima cena, mas a seqüência não deixa por menos. Mais uma vez a freira é confrontada, e dessa vez pelo padre, um superior na hierarquia religiosa, interpretado por Philip. Contudo diferente da situação anterior na qual por espanto ela não reage, o embate aqui já era esperado. Isso poderia ter deixado a cena fria ou óbvia, mas por mérito dos atores mais do que do diretor ouso conjecturar, tudo transcorre intensamente. Há de se notar o altruísmo da Meryl Streep que serve de “escada” para o brilhantismo dos companheiros de cena, característica ou delicadeza que parece intrínseca aos grandes interpretes. Mas tenho que fazer justiça e afirmar que o final é só dela: é a reafirmação da superioridade das dúvidas frente às certezas incontestes.
Sinto (e essa é a expressão mais pertinente em contraposição ao pensar) que a Dúvida não pode ser visto uma única vez. Tentarei antes do término das férias assisti-lo e me deleitar com as minhas dúvidas.