Michel Foucault. Esse é o nome do pensador que me tem “tirado o chão” como bem definiu o meu orientador de TCC ao conversarmos sobre a laboriosa teia de conceitos traçada por Foucault em diversas áreas do conhecimento. Aliás, essa maleabilidade teórica que o permitiu escrever sobre temas diversos como a psiquiatria e o Direito entre outras, se tornou o mote para que muitos o apedrejassem. Pós-moderno, afirmam peremptoriamente. No entanto nem o próprio Foucault achava pertinente ou valido um conceito com a “pós-modernidade”. Um Historiador do Pensamento como ele mesmo se definia, para aqueles que precisam de definições e ‘tags’, Foucault foi isso.
“Certos silêncios podem implicar em uma hostilidade virulenta; outros, por outro lado, são indicativos de uma amizade profunda, de uma admiração emocionada, de um amor. Eu lembro muito bem que quando eu encontrei o cineasta Daniel Schmid, vindo me visitar, não sei mais com que propósito, ele e eu descobrimos, ao fim de alguns minutos, que nós não tínhamos verdadeiramente nada a nos dizer. Desta forma, ficamos juntos desde as três horas da tarde até meia noite. Bebemos, fumamos haxixe, jantamos. Eu não creio que tenhamos falado mais do que vinte minutos durante essas dez horas. Este foi o ponto de partida de uma amizade bastante longa. Era, para mim, a primeira vez que uma amizade nascia de uma relação estritamente silenciosa. É possível que um outro elemento desta apreciação do silêncio tenha a ver com a obrigação de falar. Eu passei minha infância em um meio pequeno-burguês da França provincial, e a obrigação de falar, de conversar com os visitantes era, para mim, ao mesmo tempo algo muito estranho e muito entediante. Eu me lembro de perguntar por que as pessoas sentiam a obrigação de falar. O silêncio pode ser uma forma de relação muito mais interessante.”
Trecho de Michel Foucault. An Interview with Stephen Riggins", ("Une interview de Michel Foucault par Stephen Riggins) realizada em inglês em
2 comentários:
Incrível esse comentário do Foucault sobre o silêncio. Eu prefiro, na maioria das vezes, aproveitar os momentos com pessoas queridas para mim apenas através do silêncio e contemplação. Não vejo e não tenho nenhuma necessidade de falar o tempo todo. O conjunto de ações, atitudes e expressões de uma pessoa é muito melhor e mais verdadeiro do que as palavras.
Interessante notar também que essas relações de amizade em que o silêncio é presente são muito propícias à contemplação de modo geral. Às vezes, nesses momentos, tenho a impressão que as mentes dos envolvidos trabalham em conjunto e harmonia, como se comunicassem, pensando, se não sobre a mesma coisa, pelo menos se complementando.
"Wayheria"
Esse lance do silêncio acho que pode muito bem ser aplicado numa relação amorosa, mas apenas de amizade, sei lá hein...
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