Estou sem condições psicológicas(?) para escrever algo decente. Decente. O que seria algo decente? Acho que deveria me preocupar mais com "a fome na África, e não com coisinhas" como bem disse um grande amigo enquanto fazíamos testes de psicologia cognitiva em um bar nessa madrugada. Mas por que só me preocupar com a fome naquele continente se aqui tão perto há situações semelhantes? Não sei... Aliás, no momento só existe uma preocupação, nenhuma esperança e três tempos:
Passado:
Como Poe, poeta louco americano,
Eu pergunto ao passarinho: "Blackbird, o que se faz?"
Raven never raven never raven
Blackbird me responde
Tudo já ficou atrás
Raven never raven never raven
Assum-preto me responde
O passado nunca mais
(Velha Roupa Colorida, Belchior)
Presente:
Um dia, não haverá mais estrelas
sem olhos no meio da noite turva
Das borras de café surgirão sombras
capazes de esculpir a ausência dos corpos
Flores brotarão das toalhas das mesas,
das tristes mesas das casas sem mãe
E a poesia escreverá seus poetas,
a mostrar-lhes que a morte é comida caseira,
feita de agoras
(Da Morte, Beatriz Sayad)
Futuro:
Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...
Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...
(Metade, Ferreira Gullar)
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