28 março 2009

Em três tempos

Estou sem condições psicológicas(?) para escrever algo decente. Decente. O que seria algo decente? Acho que deveria me preocupar mais com "a fome na África, e não com coisinhas" como bem disse um grande amigo enquanto fazíamos testes de psicologia cognitiva em um bar nessa madrugada. Mas por que só me preocupar com a fome naquele continente se aqui tão perto há situações semelhantes? Não sei... Aliás, no momento só existe uma preocupação, nenhuma esperança e três tempos:


Passado:

Como Poe, poeta louco americano,
Eu pergunto ao passarinho: "Blackbird, o que se faz?"
Raven never raven never raven
Blackbird me responde
Tudo já ficou atrás
Raven never raven never raven
Assum-preto me responde
O passado nunca mais

(Velha Roupa Colorida, Belchior)

Presente:

Um dia, não haverá mais estrelas
sem olhos no meio da noite turva

Das borras de café surgirão sombras
capazes de esculpir a ausência dos corpos

Flores brotarão das toalhas das mesas,
das tristes mesas das casas sem mãe

E a poesia escreverá seus poetas,
a mostrar-lhes que a morte é comida caseira,
feita de agoras

(Da Morte, Beatriz Sayad)

Futuro:

Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...

(Metade, Ferreira Gullar)

Nenhum comentário: