Ele era algo assim como que esquisito. Estranho ao outrem e a si mesmo, à margem, sempre a margem... Talvez escolhera ser um corpo estranho, ou não. Ao certo mesmo ainda não sabia, como, aliás, não sabia de nada que fosse realmente prático. A vida não lhe parecia algo prático, funcional, normal. Vida implica fantasia, imaginação, teoria... Enfim, tudo o que ele sempre fez foi teorizar o viver, complexificar o óbvio.
Bom, mas o nosso registro não entrará nessas questões gerais sobre essa ‘estranha’ personagem. Este relato pretende sim, dar voz a mente, permitir, por a sim dizer, que os pensamentos do “Esquisito” tenham vazão por cerca de uma hora, período no qual a nossa cobaia psicológica fica exposta ao convívio com a turba, confinada em um insalubre meio de transporte que a conduz aos seus estudos até a cidade vizinha. Algo importante: pior do que o convívio com a gentalha, é a trilha sonora imposta pelo condutor do referido veiculo.
Passemos agora à psique do “Esquisito” ou Jean como comunalmente é chamado e reconhecido. Não nos cabe a censura ou edição desta pequena amostra de delírios, portanto eles serão transcritos aqui ‘brutos’, descontextualizados; em suma tal qual foram pensados. Recomendação: não procurem um sentido lógico, essa é a uma das características que o Esquisito, ou melhor, Jean não possui.
“Que desgraça, mal entro nesta porcaria e já tenho que cumprimentar essa idiota... Nunca entendi o motivo pelo qual ela ri tanto... Até parece apresentadora de programa infantil... Esse sorriso deve esconder alguma coisa! Que loucura eu fiz... Tem um lugar vago lá atrás... Acho que vou me sentar aqui mesmo, só espero que não tenha que dividir o banco com nenhuma anta, ou animal semelhante... Puta, o ônibus está cheio... Hum... não é possível que ela se sentará aqui... Sentou! Pronto agora pra piorar já começou a música 'campesina' de péssima qualidade... Ainda vou torturar esse motorista... Há-ha legal! A bateria do mp3 está ótima... Hoje pelo menos não vou ouvir o lixo externo... Será que essa senhora não percebeu que não estou a fim de conversa? Que estou sorrindo só por pura hi-po-cri-sia, que quando abro um livro significa que quero LÊ-LO... Não suporto gente imbecil!... ‘Moça prêta do Curuzu / Beleza Pura! / Federação/ Beleza Pura! / Bôca do rio/ Beleza Pura! / Dinheiro não!... ’ legal essa letra do Caetano... pena que a Globo a descontextualizou... Não tem nada a ver com a abertura daquela novelinha... Realmente as aulas de Comunicação Comparada e toda essa teoria de ‘como o contexto altera o sentido do enunciado’ têm sido muito legais... Campêlo e eu precisamos ir ao Sinuca, faz tempo que não bebemos e discutimos o vazio existencial... Precisamos também fazer uma reunião de pautas para o Guardanapo... Essa ‘Generala’ realmente é muito ‘excêntrica’... Muito bom esse livro do Velho Dostô... Tenho que perguntar para o Flávio sobre as referências do ‘Idiota’ no ‘Sacrifício’... Aliás, ele me disse que o Ciro ainda não viu o filme, mas pretende assistí-lo... Tenho que aproveitar e indicar ao nosso caro Jovem Werther, mais uma vez, ‘Querelle’. Ele certamente ficará escandalizado com o teor sexual dos diálogos... Há-há... Ignomínias... Não posso me esquecer... Até que essa menina que entrou este ano é gostosa, que curso será que ela está fazendo... Han... Pelo jeito é burra... afff... Preciso ser menos chato... Pra quê?! Estou condenado à solidão... É bem melhor assim... Mas se eu me basear em Sartre, esse estar condenado seria um equívoco... A não ser que fosse à liberdade... Para os existencialistas nós somos o que escolhemos ser, sendo assim eu não estou condenado à solidão e sim, a escolhi... Preciso reler ‘O existencialismo é um Humanismo’... Preciso reler tanta coisa... E falta ainda ler tanta coisa... Como será a imortalidade? Peter Pan e Drácula na essência são a mesma coisa... Ambos são obcecados pela não morte... Morte... Eu quero morrer, sim, e num futuro não tão distante... ‘Todos os Homens são Mortais’... Bom, eu acho... Nossa que música é essa?! Ah... É da Dee alguma coisa... Voz boa, afinada, potente... Canta muito mesmo... Huhuhuh... Puta que pariu!!! Tenho que baixar mais músicas dela... Jazz sempre me lembra a ‘Indústria Cultural’, ‘Sociedade de Massa’, Escola de Frankfurt e a ‘reprodução da obra de arte e a conseqüente perda de sua aura’... Nossa quanta coisa! Ufa... Como são interessantes as cores após a chuva... É, não saberia viver longe destas serras... Essa minha ‘mineiridade’... Quem disse isso mesmo? Minha memória está cada dia pior... Putz! Quem era... Acho que estou com um pré-Alzheimer... Ah! Guimarães Rosa... ‘ Ouça-me bem amor/ Preste atenção, o mundo é um moinho/ Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos/ Vai reduzir as ilusões à pó. ’... Estou com sono hoje... E ainda tem aula da Havainas de Saltinho... Ha-ha... A Carol é doida mesmo... Preciso dormir mais...
Será que já chegamos?... Nossa dormi mais do que pensava... Hum... Esse odor que emana da Granja... É nojento!... E o sertanejão continua a todo... Quanta idiotice... Merda... será que a burra não desconfia que está me atrapalhando?! ... Isso, sai mesmo do meu caminho... É, até mais tarde... Para o meu desespero... Menos um dia!”
Como poderá ser compreendido após a leitura da reprodução dessa verborragia mental, a nossa cobaia sofre de um tipo raro de patologia psicologica, uma espécie de esquizofrenia aguda neurótica com propensões a pseudo-intelectualidade. Caso ele não seja tratado imediatamente teremos mais um suicida as soltas. Portanto, recomendamos que tipinhos esquizitos assim, em particular esse espécime que nos serviu de cobaia ingira diarimente doses regulares de Prozac, Rivotril, ou coisa que os valha. Somente medicado, alguém com tamanha idiossincrasia não oferecerá risco a sociedade e as demais pessoas que trabalham e se esforçam por uma existência mais produtiva sócio-economicamente. Também sugerimos que aqueles que tiveram os seus nomes ‘pensados’ pela cobaia (Campêlo, Flávio, Ciro e Carol) sejam ‘investigados’, inclusive esse tal de “Velho Dostô” que suspeitamos ser o pseudônimo de algum corruptor de jovens mentes.
Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a vida real não terá sido mera coincidência…
Bom, mas o nosso registro não entrará nessas questões gerais sobre essa ‘estranha’ personagem. Este relato pretende sim, dar voz a mente, permitir, por a sim dizer, que os pensamentos do “Esquisito” tenham vazão por cerca de uma hora, período no qual a nossa cobaia psicológica fica exposta ao convívio com a turba, confinada em um insalubre meio de transporte que a conduz aos seus estudos até a cidade vizinha. Algo importante: pior do que o convívio com a gentalha, é a trilha sonora imposta pelo condutor do referido veiculo.
Passemos agora à psique do “Esquisito” ou Jean como comunalmente é chamado e reconhecido. Não nos cabe a censura ou edição desta pequena amostra de delírios, portanto eles serão transcritos aqui ‘brutos’, descontextualizados; em suma tal qual foram pensados. Recomendação: não procurem um sentido lógico, essa é a uma das características que o Esquisito, ou melhor, Jean não possui.
“Que desgraça, mal entro nesta porcaria e já tenho que cumprimentar essa idiota... Nunca entendi o motivo pelo qual ela ri tanto... Até parece apresentadora de programa infantil... Esse sorriso deve esconder alguma coisa! Que loucura eu fiz... Tem um lugar vago lá atrás... Acho que vou me sentar aqui mesmo, só espero que não tenha que dividir o banco com nenhuma anta, ou animal semelhante... Puta, o ônibus está cheio... Hum... não é possível que ela se sentará aqui... Sentou! Pronto agora pra piorar já começou a música 'campesina' de péssima qualidade... Ainda vou torturar esse motorista... Há-ha legal! A bateria do mp3 está ótima... Hoje pelo menos não vou ouvir o lixo externo... Será que essa senhora não percebeu que não estou a fim de conversa? Que estou sorrindo só por pura hi-po-cri-sia, que quando abro um livro significa que quero LÊ-LO... Não suporto gente imbecil!... ‘Moça prêta do Curuzu / Beleza Pura! / Federação/ Beleza Pura! / Bôca do rio/ Beleza Pura! / Dinheiro não!... ’ legal essa letra do Caetano... pena que a Globo a descontextualizou... Não tem nada a ver com a abertura daquela novelinha... Realmente as aulas de Comunicação Comparada e toda essa teoria de ‘como o contexto altera o sentido do enunciado’ têm sido muito legais... Campêlo e eu precisamos ir ao Sinuca, faz tempo que não bebemos e discutimos o vazio existencial... Precisamos também fazer uma reunião de pautas para o Guardanapo... Essa ‘Generala’ realmente é muito ‘excêntrica’... Muito bom esse livro do Velho Dostô... Tenho que perguntar para o Flávio sobre as referências do ‘Idiota’ no ‘Sacrifício’... Aliás, ele me disse que o Ciro ainda não viu o filme, mas pretende assistí-lo... Tenho que aproveitar e indicar ao nosso caro Jovem Werther, mais uma vez, ‘Querelle’. Ele certamente ficará escandalizado com o teor sexual dos diálogos... Há-há... Ignomínias... Não posso me esquecer... Até que essa menina que entrou este ano é gostosa, que curso será que ela está fazendo... Han... Pelo jeito é burra... afff... Preciso ser menos chato... Pra quê?! Estou condenado à solidão... É bem melhor assim... Mas se eu me basear em Sartre, esse estar condenado seria um equívoco... A não ser que fosse à liberdade... Para os existencialistas nós somos o que escolhemos ser, sendo assim eu não estou condenado à solidão e sim, a escolhi... Preciso reler ‘O existencialismo é um Humanismo’... Preciso reler tanta coisa... E falta ainda ler tanta coisa... Como será a imortalidade? Peter Pan e Drácula na essência são a mesma coisa... Ambos são obcecados pela não morte... Morte... Eu quero morrer, sim, e num futuro não tão distante... ‘Todos os Homens são Mortais’... Bom, eu acho... Nossa que música é essa?! Ah... É da Dee alguma coisa... Voz boa, afinada, potente... Canta muito mesmo... Huhuhuh... Puta que pariu!!! Tenho que baixar mais músicas dela... Jazz sempre me lembra a ‘Indústria Cultural’, ‘Sociedade de Massa’, Escola de Frankfurt e a ‘reprodução da obra de arte e a conseqüente perda de sua aura’... Nossa quanta coisa! Ufa... Como são interessantes as cores após a chuva... É, não saberia viver longe destas serras... Essa minha ‘mineiridade’... Quem disse isso mesmo? Minha memória está cada dia pior... Putz! Quem era... Acho que estou com um pré-Alzheimer... Ah! Guimarães Rosa... ‘ Ouça-me bem amor/ Preste atenção, o mundo é um moinho/ Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos/ Vai reduzir as ilusões à pó. ’... Estou com sono hoje... E ainda tem aula da Havainas de Saltinho... Ha-ha... A Carol é doida mesmo... Preciso dormir mais...
Será que já chegamos?... Nossa dormi mais do que pensava... Hum... Esse odor que emana da Granja... É nojento!... E o sertanejão continua a todo... Quanta idiotice... Merda... será que a burra não desconfia que está me atrapalhando?! ... Isso, sai mesmo do meu caminho... É, até mais tarde... Para o meu desespero... Menos um dia!”
Como poderá ser compreendido após a leitura da reprodução dessa verborragia mental, a nossa cobaia sofre de um tipo raro de patologia psicologica, uma espécie de esquizofrenia aguda neurótica com propensões a pseudo-intelectualidade. Caso ele não seja tratado imediatamente teremos mais um suicida as soltas. Portanto, recomendamos que tipinhos esquizitos assim, em particular esse espécime que nos serviu de cobaia ingira diarimente doses regulares de Prozac, Rivotril, ou coisa que os valha. Somente medicado, alguém com tamanha idiossincrasia não oferecerá risco a sociedade e as demais pessoas que trabalham e se esforçam por uma existência mais produtiva sócio-economicamente. Também sugerimos que aqueles que tiveram os seus nomes ‘pensados’ pela cobaia (Campêlo, Flávio, Ciro e Carol) sejam ‘investigados’, inclusive esse tal de “Velho Dostô” que suspeitamos ser o pseudônimo de algum corruptor de jovens mentes.
Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com a vida real não terá sido mera coincidência…
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