"(...) Nós... nós batíamos as pálpebras. Chamava-se a isso piscar. Um pequeno relâmpago negro, uma cortina que cai e se ergue: deu-se a interrupção. Os olhos se umedecem, o mundo se aniquila. Não pode imaginar como era refrescante! Quatro mil repousos por hora. Quatro mil pequenas evasões. Quatro mil, digo eu... Como é? Então, vou viver sem pálpebras? Não se faça de bobo. Sem pálpebras, sem sono, é a mesma coisa. Nunca mais hei de dormir... Como poderei me tolerar? Trate de responder, faça um esforço! Tenho um caráter implicante, como vê, e tenho o costume de implicar comigo mesmo. Mas... mas, não posso estar implicando sem parar. Por lá, havia as noites. Eu dormia. Tinha o sono leve. Em compensação, sonhava coisas simples. Havia uma campina. Uma campina, nada mais. Eu sonhava que estava passeando por ela. É de dia?" (Garcin em "Entre Quatro Paredes", de J.P. Sartre)
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