Que fique esclarecido, ainda não voltarei a escrever, ao menos não com a minha antiga "coragem" mas, talvez, seja chegado o momento de retornar – e retomar – estas quimeras... As condições, todavia, estão dadas. O que significa, evidentemente, uma única coisa: passei tanto tempo a acumular sentimentos, impressões, expressões, me empanturrando de livros, filmes e debates acaloradas que, enfim, pareço estar pronto para regurgitar, dar vazão a essa matéria inerte.
Evidente, também, o fato de não ter abandonado o receio em escrever, não por me considerar um “mau” escritor, mas por ter certeza da minha superficialidade crônica ou da mera incapacidade de transpor e desnaturalizar uma estrutural e constituinte percepção de mundo – meta existencial. No entanto, para além dessas questões prosaicas, é bom reafirmar que este sujeito aqui é “um outro”.
Parêntese: Tornar-se permanentemente outro, vivenciar um festivo devir na busca insensata por uma meninice alucinatória, resultaram em um objetivo cotidiano de movimento (espécie de travessia roseana) e, sobretudo, em um afã leviano de conhecer-me a mim mesmo. Engodo. Na minha obsessão teórica em apreender, racionalizar e, se possível, operacionalizar a existência consegui apenas aprofundar um mal estar latente. Isso porque só agora – embora não necessariamente – percebi que o devir é imanência, não há não-movimento e muito menos como evitar tornar-se outro. Ou seja, o dispositivo a ser acionado é muito simples e se chama vida. Tudo o mais é decorrência desta primeira ação. A própria vida se encarrega de deflagrar a vida, portanto. Fecha parêntese.
Pois bem, daqui para frente pretendo, aos poucos, voltar a escrever com certa regularidade, sabe-se lá qual... Ainda sou norteado por acontecimentos, então esse pode ser um elemento propulsor, tudo dependerá, contudo, de uma única coisa: estar angustiado. Sem essa “anima”, não há vida possível para mim, claro.