Voltei a ouvir Billie Holiday, diária e ritualisticamente. Isso é um fato. Menos factuais são as emoções despertadas, ou catalisadas pela voz de “Lady Day”... É inexplicável, ou fora do parâmetro tentar descrever os pensamentos suscitados quando a ouço interpretar Strange Fruit ou Lady Sings the Blues. Tristeza. Billie juntamente com Edith Piaf são, talvez, as duas maiores interpretes da tristeza em sua forma mais sublime, artística. Engraçado como a vida dessas duas senhoras do canto se assemelham em vários aspectos: ambas nasceram no mesmo ano, 1915 (eu só me dei conta disso ao assistir o filme “Piaf – Um Hino ao Amor”, em determinada cena Piaf se diz fã de Billie e comenta o fato de terem nascido no mesmo ano!); tiveram uma infância pobre e em famílias desestruturadas; começaram a ser reconhecidas e prestigiadas como cantoras nos anos de 1930; se tornaram dependentes do álcool e outros tipos de drogas; morreram prematuramente – Billie Holiday em 1959 e Edith Piaf em 1963.
São tantas as analogias na trajetória de Billie e Piaf que só consigo encontrar uma possível explicação na teoria da Sicronicidade de Jung. Enfim, de qualquer forma elas foram inegavelmente grandes artistas, souberam viver a vida com todos os prazeres intrínsecos aos desprazeres que lhes foram ofertados. Cantaram e, além disso, interpretaram de forma única e apaixonada. Isso sim é um fato...